C20. História





Componente Curricular
: História / Professor(a): Raphael Martins de Mello / Turmas: C20




REVOLUÇÕES NA INGLATERRA

BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: sociedade & cidadania. 8º ano. 4. ed. São Paulo: FTD, 2018.

POLÍTICA E SOCIEADE NA INGLATERRA DO SÉCULO XVI

No século XVI, a monarquia inglesa era absolutista. Seus governantes tinham um enorme poder. Esse era o caso, por exemplo, da rainha Elizabeth I (1558-1602). Adotando uma política mercantilista e associando-se a corsários, o governo de Elizabeth I contribuiu para que a Inglaterra se tornasse uma grande potência econômica e naval.
(Política Mercantilista: Política econômica de incentivo e proteção ao comércio e às manufaturas.)
(Corsários: Piratas que tinham licença real (carta de corso) para a prática da pirataria.)

 Elizabeth I, de George Gower (1588). O tamanho desproporcional de Elizabeth representa o seu poder.

No reinado de Elizabeth I e nas décadas seguintes ocorreu o enriquecimento da burguesia (comerciantes e donos de manufaturas), da pequena nobreza rural (gentry, em inglês) e dos pequenos proprietários rurais (yeomen, em inglês). Esses grupos sociais produziam e exportavam alimentos e tecidos de lã e/ou de algodão para várias partes do mundo.
No campo, a agricultura de subsistência cedeu lugar à agricultura comercial; para criar ovelhas (e extrair a lã), a gentry e os yeomen cercaram seus domínios, expulsando as famílias de camponeses que lá viviam. A essa prática deu-se o nome de cercamento. Sem terra onde plantar ou criar, os camponeses vagavam pelas estradas ou iam para as cidades, sobretudo para Londres, onde se ofereciam para trabalhar por baixíssimos salários.
(Cercamento: consistia em cercar as terras de uso comum, de onde os camponeses retiravam sua subsistência, para transformá-las em pastos para a criação de ovelhas – produtoras de lã – ou em áreas de produção de gêneros comerciais.)

Camponeses ingleses de um vilarejo. Esta obra do século XIX nos ajuda a imaginar um fenômeno típico do século XVII, na Inglaterra: a migração de famílias do campo apara a cidade.
 





MONARQUIA X PARLAMENTO NO SÉCULO XVII

Com a morte de Elizabeth I, seu primo, o rei da Escócia, assumiu o trono da Inglaterra como Jaime I, dando início à dinastia Stuart. Durante essa dinastia ocorreram intensos conflitos envolvendo diferentes grupos sociais e religiões. A maior parte da burguesia e a gentry seguiam o puritanismo e defendiam que cada um deveria agir conforme a Bíblia e a sua própria consciência; para os puritanos, a Igreja devia ser independente do Estado. Já a alta nobreza e os reis ingleses praticavam o anglicanismo, religião na qual o chefe da Igreja é o próprio rei.
(Puritanismo: ramo do protestantismo que tem como principal líder o reformador João Calvino. Por isso é que, na Inglaterra, os calvinistas são chamados de puritanos.)
(Anglicanismo: o anglicanismo adotava rituais católicos e doutrina protestante e foi fundado pelo rei da Inglaterra Henrique VIII.)
O Parlamento inglês também se encontrava dividido: na Câmara dos Lordes estavam os representantes da alta nobreza e na Câmara dos Comuns, os representantes da burguesia e da gentry.
Considerando-se rei por direito divino, Jaime I tentou impor o anglicanismo a todos os seus súditos. E, além disso, criou novos impostos e aumentou os existentes. Mas como o Parlamento, que tinha um grande número de puritanos, se opôs a essas medidas, o rei mandou fechá-lo revelando assim seu absolutismo.
Carlos I, sucessor e filho de Jaime I, deu continuidade à política absolutista de seu pai: concedeu monopólios a alguns grupos burgueses, vendeu cargos públicos e criou novos impostos. Um desses impostos, ship money, antes pago apenas pelas cidades portuárias, passou a ser nacional.
(Monopólio: exclusividade em um determinado ramo de negócios.)
(Ship Money: “o dinheiro do navio”, traduzido do inglês; imposto destinado à defesa naval.)


Calos I em três posições. Anthony van Dyck, século XVIII.


Como a oposição ao seu governo no Parlamento aumentou, Carlos I invadiu a Câmara dos Comuns com sua guarda pessoal para prender os líderes oposicionistas. Avisados de antemão, estes se retiraram e se uniram às tropas armadas organizadas para lutar contra o absolutismo. Iniciou-se então na Inglaterra uma guerra civil (1642-1649) durante a qual os ingleses estiveram divididos em dois grandes grupos rivais. Observe o esquema.


REI

PARLAMENTO
GRUPOS SOCIAIS
Alta nobreza + Burguesia monopolista
X
Burguesia comercial e manufatureira + a gentry + os yoemen
RELIGIÃO
Anglicanos ou católicos
X
Puritanos ou presbiterianos.


A ERA CROMWELL

O deputado e líder puritano Oliver Cromwell remodelou o exército e, à frente dele, venceu várias batalhas; os soldados passaram a ser promovidos com base na competência e não mais por terem nascido em uma família de prestígio. Ou seja, o critério de nascimento foi substituído pelo de merecimento. Esse novo exército (New Model Army) venceu o exército do rei na Batalha de Naseby (1645), que pôs fim à luta. Esse processo é reconhecido como Revolução Puritana. O rei Carlos I foi condenado à morte e executado. A república foi proclamada e Cromwell assumiu o governo do país.



Estátua de Oliver Cromwell. Câmara dos Deputados do Reino Unido, Palácio de Westminster, Londres. A estátua foi esculpida por Hamo Thornycroft em 1899. Na época, ela gerou uma grande polêmica por conta da oposição de Cromwell à monarquia britânica.

A REPÚBLICA DE CROMWELL

No governo, Cromwell combateu duramente seus inimigos internos e externos, confiscou as terras dos aliados do rei e da Igreja Anglicana e vendeu-as para seus aliados, membros da burguesia e da gentry.
Além disso, visando fortalecer o comércio exterior inglês, Cromwell promulgou, em 1651, leis conhecidas como Atos de Navegação. Essas leis diziam que todas as mercadorias que entrassem ou saíssem pelos portos da Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales e Escócia) só podiam ser transportadas em navios ingleses ou pertencentes aos países produtores.


Vista do Rio Tâmisa, Jan the Elder Griffier, Londres, século XVII, Inglaterra. Naquele tempo, Londres era o centro de um importante núcleo mercantil e a maior cidade da Europa. No comércio pelos mares perdia apenas para a Holanda, a maior potência naval da época.

Os Atos de Navegação favoreceram a acumulação de capitais por parte da burguesia britânica e prejudicaram os comerciantes holandeses, que lucravam com o transporte de produtos negociados com a Inglaterra. Esse conflito de interesses provocou uma guerra entre os dois países (1651-1654). A Holanda foi vencida e a Inglaterra passou a liderar o comércio nos mares; tornou-se a maior potência naval daqueles tempos, sendo conhecida a partir de então como “rainha dos mares”.
Cromwell aproveitou-se da guerra contra a Holanda para ampliar seu poder: tornou seu cargo hereditário (que passa de pai para filho) e vitalício (para toda a vida). Por isso, com a sua morte, em 1658, foi sucedido por seu filho Ricardo.

A DEPOSIÇÃO DE RICARDO CROMWELL E A VOLTA DA MONARQUIA NA INGLATERRA

No governo, o filho de Cromwell enfrentou forte oposição de grupos políticos e religiosos surgidos durante a Revolução Puritana. Dois deles destacaram-se pela ousadia de suas propostas: os niveladores e os cavadores.
(Niveladores: o nome niveladores (levellers) foi dado por seus adversários: dizia-se que eles queriam nivelar todos os homens por baixo, ou seja, tirar os bens dos ricos para que todos fossem pobres e iguais.)
(Cavadores: os “cavadores” (diggers) receberam esse nome porque durante um ato de protesto começaram, pois, a capinar as terras públicas.)

Os niveladores defendiam:

a dissolução da Câmara dos Lordes e todo poder para a Câmara dos Comuns;
o direito de voto a todos os homens e a liberdade de cada um seguir a sua religião;
o fim dos dízimos cobrados pela Igreja Anglicana e dos monopólios comerciais;
o direito à propriedade privada e a proteção à pequena propriedade.

Os cavadores, por sua vez, defendiam:

uma reforma agrária radical com o confisco das terras da Igreja, do governo e dos grandes proprietários;
a entrega das terras confiscadas aos pobres, para que eles as cultivassem e ficassem com os frutos de seu trabalho.


John Lilburne, líder dos niveladores. Escola inglesa, 1649.

Para os cavadores, o maior de todos os seus representantes era o próprio Jesus Cristo que, diziam eles, esteve sempre ao lado dos mais pobres.
A força desses movimentos populares amedrontou o Parlamento, que decidiu destituir Ricardo Cromwell e restaurar a monarquia. Em 1660, com Carlos II, filho do rei decapitado, a dinastia Stuart voltou ao poder.

A REVOLUÇÃO GLORIOSA (1688)

Carlos II se declarava rei por direito divino, embora soubesse que, de fato, era rei por vontade do Parlamento. E durante todo o seu reinado tentou promover a volta do absolutismo. Jaime II (1685-1688), seu irmão e sucessor, fez o mesmo e, para isso, pediu apoio a Luís XIV, da França, o rei mais poderoso da Europa.
Reagindo a isso, o Parlamento, formado em sua maioria pela burguesia e pela gentry, reuniu tropas para derrubar o rei Jaime II, que abandonou o trono antes que os soldados chegassem. O Parlamento, então, entregou o governo da Inglaterra ao genro de Jaime II, o príncipe holandês Guilherme de Orange.



Na imagem de 1753, um membro do Parlamento lendo a Declaração dos Direitos para o príncipe Guilherme de Orange e sua esposa Maria, filha do rei deposto.

Esse movimento ficou conhecido como Revolução Gloriosa pelo fato de o Parlamento ter vencido a disputa sem derramamento de sangue. Antes de ser coroado rei, Guilherme de Orange teve de jurar obediência à Declaração dos Direitos (Bill of Rights), vigente na Inglaterra até os dias atuais.
Pela Declaração dos Direitos, a Monarquia precisava da aprovação da maioria dos parlamentares para tomar as decisões mais importantes, como convocar o exército, criar impostos ou suspender leis. Caberia também ao Parlamento fiscalizar os atos do rei. Por isso, na Inglaterra tornou-se comum dizer: “O rei reina, mas quem governa é o Parlamento”.

O SIGNIFICADO DA REVOLUÇÃO GLORIOSA

A Revolução Gloriosa chegava ao fim: a Inglaterra deixava de ser uma monarquia absolutista e tornava-se uma monarquia parlamentar. O Parlamento passava a ter um grande poder de decisão. Os ingleses deixavam de ser apenas súditos do rei e passavam a ser cidadãos, com direitos e deveres.
A Revolução Gloriosa, além disso, favoreceu o desenvolvimento do capitalismo. A partir de então, foram tomadas várias medidas favoráveis ao crescimento das manufaturas, das empresas rurais e da indústria naval. Tudo isso contribuiu para a liderança econômica e política da burguesia inglesa e para a Revolução Industrial: um conjunto de mudanças profundas iniciadas na Inglaterra por volta de 1760 no modo de os seres humanos produzirem mercadorias, viverem e se relacionarem uns com outros.
(Capitalismo: Sistema econômico em que predominam a propriedade privada dos meios de produção – terras, fábricas, equipamentos etc. –, as relações assalariadas de trabalho e a produção visando ao lucro.)
 
Big Ben e a sede do Parlamento Inglês.

Para refletir
O que é revolução?
A palavra revolução é muito usada no nosso dia a dia: “Os celulares revolucionaram as comunicações”; “A vacina Sabin revolucionou a medicina”; “Os computadores revolucionaram o trabalho nas empresas”. O que todas essas frases possuem em comum é a ideia de uma grande mudança. Assim, toda vez que você ouvir a palavra revolução, pense sempre em mudanças que afetam a vida de milhares ou mesmo milhões de pessoas. Os computadores e os celulares, por exemplo, afetaram a vida pessoal e profissional de milhões de pessoas ao redor do mundo.
As revoluções, no entanto, não ocorrem de uma hora para outra; resultam, geralmente, de processos lentos, que envolvem muitos fatores. Esse também foi o caso da Revolução Industrial.

ATIVIDADES

1. Identifique a afirmativa incorreta e corrija-a em seu caderno:

a) No século XVI a Inglaterra foi governada por monarcas absolutistas com destaque para Henrique VIII e sua filha Elizabeth I (1558-1602).

b) A Rainha Elizabeth I adotou uma política de incentivo e proteção ao comércio e às manufaturas inglesas.

c) Associando-se aos corsários em empreendimentos lucrativos, o governo de Elizabeth I contribuiu para tornar a Inglaterra uma potência econômica e naval.

d) O governo da rainha Elizabeth I favoreceu a burguesia, mas prejudicou a gentry e os yeomen.

2. Na Inglaterra do século XVII, as disputas entre o Parlamento e a Monarquia desembocaram em uma guerra civil (1642-1649). Sobre o assunto responda:

a) O que é uma guerra civil?

b) Que grupos sociais e religiosos lutaram ao lado do rei? Quais lutaram ao lado do
Parlamento?

c) Qual foi o desfecho da guerra civil de 1642-1649?

3. Sobre os Atos de Navegação promulgados por Cromwell, em 1651, responda:

a) O que foram esses Atos?

b) Com que objetivo Cromwell os promulgou?

c) Quais os desdobramentos da promulgação desses Atos?

4. Elabore no caderno uma ficha sobre a Revolução Gloriosa de 1688.


Revolução Gloriosa de 1688
O que foi?

Mudanças decorrentes dessa revolução

Relação entre a Revolução Gloriosa e a Revolução Industrial na Inglaterra


5. Temos aqui um diagrama invertido! A palavra-chave é Revolução. Elabore no caderno as questões ou “dicas” que resultaram nas respostas do diagrama.









Leia o texto a seguir.




O artista inglês Ernest Crofts recria o momento em que os soldados de Cromwell prendem o rei Carlos I, visto ao centro.
 FLORENZANO, Modesto.As revoluções burguesas.
São Paulo: Brasiliense, 1981. (p. 105-106.)

Responda:

6. O novo exército, conhecido como New Model Army, instituído por Cromwell, se destacava por ser:

a) democrático e revolucionário.

b) elegante e aristocrático.

c) pequeno, mas organizado.

d) puritano e presbiteriano.

7. Cromwell remodelou o exército, introduziu o critério de competência e substituiu o de nascimento, democratizando, assim, o exército inglês. Com isso, os soldados sentiram-se motivados a ganhar batalhas. O trecho do texto que confirma essa ideia é:

a) “Mas os primeiros sucessos militares do New Model Army, imbatível no campo de batalha, e a própria lógica dos acontecimentos que exigiam uma definição da luta”.

b) “[...] „prefiro ter um capitão simples e rústico, que saiba por que luta e ame aquilo que sabe, do que um daqueles a quem chamais gentil--homem e que não passa disso”.

c) “De sorte que os líderes presbiterianos do Parlamento foram obrigados a aceitar a reorganização e a unificação de todas as forças militares nos moldes de New Model Army”.

d) ”Este novo exército (democrático e revolucionário), New Model Army, era visto com desconfiança pelo partido presbiteriano, cujos chefes militares eram escolhidos [...] por critérios aristocráticos”.

8. Sobre o modelo de exército anterior a Cromwell,

I. Os soldados eram indicados por critérios aristocráticos, ou seja, eram escolhidos e promovidos por terem nascido em uma família de prestígio.

II. A competência era um fator determinante para que o soldado alcançasse uma promoção na carreira militar.

III. Os critérios de escolha dos soldados nesse modelo desagradaram o partido presbiteriano no
Parlamento.

Estão corretas as afirmativas:

a) I e III, apenas.

b) II e III, apenas.

c) I e II, apenas.

d) I, II e III.

9. Segundo o texto, a remodelação do exército por Cromwell influenciou na derrota do exército do rei na Batalha de Naseby?

a) Não.

b) Sim.

c) Em parte.

d) Muito pouco.




BJOS DO SOR!




Comentários